Agronegócio

‘O pior está por vir’, afirma produtor e exportador de manga do Vale do São Francisco

 

“O pior ainda está por vir na região do Vale São Francisco”, afirmou o produtor rural, exportador, empresário e consultor Alex Tenório, sobre o tarifaço de 50% imposto pelo governo dos Estados Unidos para a importação de produtos brasileiros. Ele explica que os Estados Unidos consomem 50% de toda a manga produzida no segundo semestre na região e que os impactos serão sentidos não apenas na produção, mas também no crédito, nas operações financeiras de toda a cadeia produtiva e na qualidade da fruta.

Segundo a Embrapa, o Vale responde por cerca de 90% das exportações de manga no país. “É um mercado de enorme expressão para a região. O faturamento vai cair. Ainda não temos a dimensão das perdas, mas a conta vai chegar nos próximos meses. Os produtores já estão sentindo, já há empresas deixando a fruta no pomar, sem colher”, afirmou Tenório. Ele disse que os prejuízos do tarifaço dos EUA vão chegar ao Vale dos São Francisco em três meses, afetando a economia e toda a cadeia produtiva local, que é muito extensa. “Inclui desde o produtor até o operador logístico, o operador portuário, a indústria de papelão que projetou um número de caixas de embalagens que não será consumido”, disse.

Tenório acrescentou que o custo operacional do Brasil é muito alto e a operação logística absorve grande parte do retorno financeiro da manga. “Tem época em que vendemos a caixa de manga na Europa a 4 euros e a logística custa 3 euros”, disse. A soma do custo Brasil ao tarifaço torna o cenário ainda mais caótico, apontou.

Sem crédito

O produtor e empresário lembrou que o tarifaço não exerce pressão apenas no mercado produtor e distribuidor, mas também nas operações financeiras de toda a cadeia produtiva. “As instituições financeiras financiam a fruticultura. Com a redução das opções de mercado, o produtor perde o crédito, dando início a uma bola de neve. Há queda no emprego e toda cadeia funciona de forma mais lenta”, comentou.

Tenório citou que um distribuidor que comprava 10 milhões de quilos de manga para exportar para os EUA vai reduzir a quantidade pela metade porque o sistema financeiro reduziu as opções para esse distribuidor financiar suas operações. “A pressão que o empresariado do Vale do São Francisco está sofrendo com o tarifaço é muito maior do que o aumento da tarifa”, afirmou.

Além de reduzir as opções de mercado, a taxação de 50% sobre a manga tem um grande impacto porque a fruta já é um produto de baixo valor agregado, portanto, o produtor não consegue arcar com esse custo tão alto. “O mercado desaquecido resulta em frutas desvalorizadas. A fruta que não vai para o mercado dos Estados Unidos já está nos pomares das fazendas e vai ter que ir para outro lugar. Vai para o mercado europeu, ampliando a oferta. Quanto mais frutas no mercado, menor o preço”, apontou.

Desconfiança e queda de qualidade

O tarifaço impactou ainda a qualidade da manga, de acordo com o produtor e empresário. “O produtor perdeu a confiança já não está manejando tão bem sua cultura, o que impacta a qualidade da fruta. O clima é horrível, de medo e desconfiança e vai piorar muito nos próximos três meses”, disse.

Tenório defendeu que produtor rural no Brasil precisa ter acesso ao mercado e para isso são necessários acordos com países de forma diplomática. Ele disse que o tarifaço é uma variante que pode ser resolvida, ao contrário de outras como o clima e as chuvas, que não têm solução. “Com o clima, o produtor aprende a lidar porque não pode mudar. Mas a questão do tarifaço é política e pode ser resolvida”, afirmou.

O produtor rural e empresário comentou que o Vale do São Francisco, região geográfica do Nordeste brasileiro delimitada pela bacia do Rio São Francisco e abrangendo partes dos estados da Bahia e Pernambuco, gera mais de 250 mil empregos na agricultura e tem papel relevante para a economia local e nacional.

Tenório lembrou que o primeiro semestre deste ano já havia sido complicado para o agricultor porque ocorreu aumento da oferta de manga de países da África, do Peru e da República Dominicana. “O produtor esperava melhorar os ganhos no segundo semestre e agora enfrenta o caos por causa da política”, lamentou.

Produção

Segundo a Embrapa, o Brasil produz aproximadamente 1,25 milhão de toneladas de manga por ano e ocupa a sexta posição entre os maiores produtores mundiais, atrás da Índia, Indonésia, China, Paquistão e México. A região do Vale São Francisco é a de maior produtividade no país, conforme a Embrapa, com média superior a 30 toneladas por hectare, que pode chegar a 50 toneladas em áreas mais adensadas, enquanto a média nacional é de 20 toneladas por hectare.

De acordo com a Embrapa, o Brasil exportou 266 mil toneladas em 2023, cerca de 90% produzidas no Vale do São Francisco. Embora a região colha a fruta o ano todo, o pico de produção costuma ser justamente no segundo semestre. O principal mercado da manga brasileira é a União Europeia, com o maior volume indo para a Holanda, devido ao porto de Roterdã. O segundo país que mais comprou a manga brasileira em 2023 foi os Estados Unidos, seguido da Espanha, Reino Unido e Portugal.

Gargalos

Alex Tenório, diretor da empresa FTB de comércio de manga e frutas, participou do Podcast Ascenza, que pode ser conferido no site www.ascenza.com.br e contou com a participação da engenheira agrônoma da Ascenza em Pernambuco, Bárbara de Oliveira, e da responsável pela comunicação da Ascenza Brasil, Sabrina Goveia.

Bárbara e Tenório comentaram, no bate-papo, que, além do tarifaço, a produção de manga no Vale do São Francisco tem na mão de obra seu maior gargalo, afirmam Bárbara e Tenório. Bárbara acrescentou que o setor de hortifruticultura é o que mais emprega no segmento de agronegócios.

“Ao contrário de outras culturas, como de grãos, a fruticultura precisa de mãos, de pessoas”, disse Bárbara. Tenório afirmou que os trabalhadores rurais do Vale ainda não entenderam a importância deles no processo produtivo e econômico da região. “Eles precisam perceber o impacto de suas ações”, disse. Bárbara acrescentou que os produtores precisam investir nesse trabalhador para melhorar e qualificar a mão de obra.

Outro gargalo do setor de manga, segundo a engenheira agrônoma, é o Limite Máximo de Resíduos (LMR) de defensivos na produção. “É um calo para o produtor de frutas, uma questão que merece cuidado”, comentou. Tenório alegou que os produtores precisam se organizar e se mobilizar para ter mais acesso a informações sobre como otimizar o uso de defensivos.

Sabrina explicou que a Ascenza mantém engenheiros agrônomos especializados em diferentes culturas e regiões do Brasil para orientar os agricultores locais sobre as melhores soluções e oferece soluções personalizadas no tamanho ideal para cada lavoura. “O produtor precisa estar bem e produzir bem para que as pessoas possam se alimentar bem”, resumiu Bárbara.

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